Transgênicos: como eles nos afetam?
Recentemente participei de um congresso pela primeira vez, o Caeb (Congresso Aberto aos Estudantes de Biologia). Inteiramente organizados pelos alunos de Ciências Biológicas da Unicamp, o Caeb ocorre bienalmente e tem grande importância na iniciação científica de grande parte dos graduandos participantes, incluindo a mim. Nele tive a oportunidade de participar de uma mesa redonda que discutiu o uso de transgênicos e, por se tratar de um assunto tão sério, decidi trazer um pouco da discussão para o Crânio.
A Mesa contou com o agrônomo Paulo Mazzafera, o engenheiro agronômico Mohamed Habib, a bióloga Patrícia Brant e o biólogo José Maria Gusman. O debate começou com uma apresentação da opinião de Paulo Mazzafera, que é a favor do uso de transgênicos. Desde o início sua opinião reforça que os trangênicos são e devem sempre ser uma alternativa para o combate da fome no mundo, um discurso antigo que até hoje não se provou verdadeiro, muito pelo contrário. Essa estratégia, chamada de Revolução Verde, surge na década de 60, com o objetivo de acabar ou ao menos diminuir a fome do mundo, por meio de sementes modificadas (aliados ao uso de agrotóxicos), fertilização de solos e uso de máquinas para a produção. A Revolução Verde realmente ampliou a produção de países subdesenvolvidos, inclusive o Brasil, entretanto essa produção se voltou ainda mais para a exportação para países desenvolvidos. Além disso, a maior produção de grandes empresas acabaram dificultando a concorrência de pequenos produtores, que muitas vezes se viam obrigados a vender suas propriedades. Ou seja, esse é um argumento realmente válido para se apoiar o uso de trangênicos?
Mazzafera, já no final de sua apresentação, faz algumas observações lamentáveis, dizendo que é díficil explicar para países menos desenvolvidos que eles não podem ter o mesmo padrão de vida dos países mais desenvolvidos. Completou dizendo que ninguém gosta da ideia de abrir mão de algo que nunca teve em função dos outros, citando carros como exemplo. Ou seja, enquanto países mais desenvolvidos mantém seu padrão de vida, o American Way of Life, por exemplo, onde há grande consumo e desperdício, os países subdesenvolvidos devem entender que não poderão ter tais padrões, continuando no seu padrão, o da pobreza e fome.
Em seguida, a apresentação de Mohamed Habib, contra os transgênicos. Inicia com a informação de que o Brasil é, desde 2008, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e que isso se deve ao uso dos trangênicos, resultado do modelo de Revolução Verde adotado no Brasil. Cita que as empresas de agrotóxicos no Brasil têm isenção de impostos e contribuições, e que esses privilégios devem ser suspensos, a fim de diminuir seu uso e consequentemente seu impacto na saúde e na natureza no Brasil. Como outra medida a ser tomada ele cita implantar a Agroecologia em detrimento do Agronegócio. Ainda podemos retomar o conceito de Agroecologia no Crânio, mas resumidamente, é uma alternativa para combater a Revolução Verde, sendo uma forma de agricultura visando uma melhor relação ambiental da produção e uma melhora nas condições socioculturais dos produtores.
Outro ponto importante trazido por Habib foi o perigo representado pelo oligo ou até mesmo o monopólio da produção de alimentos por empresas de alimentos transgênicos. Em uma paráfrase disse: "Quem quiser dominar os povos tem que primeiro dominar a produção de alimentos". E, realmente, nós acabamos deixando nossa alimentação, e consequentemente nossa saúde, nas mãos dessas grandes empresas.
A próxima a se apresentar, Patrícia Brant iniciou dizendo que esqueceram, ao apresentá-la, de incluir que ela trabalha atualmente na Monsanto, maior empresa de transgênicos e agrotóxicos do mundo. Em sua apresentação havia uma linha do tempo mostrando como as biotecnologias, como a fermentação alimentícia por exemplo, surgiram e como tiveram papel fundamental na nossa sociedade. Falou sobre a Seleção Artificial, que, com o tempo, possibilitava o aumento da quantidade e da qualidade da produção. Tentou explicar o trabalho de mutagênese feito por sua empresa. Tudo isso de forma a acharmos que toda essa questão não é nada além de um passo na direção de melhorar o mundo, assim como as diversas biotecnologias existentes.
Em parte de sua apresentação ela afirmou que havia uma seleção feita pela CTNBio, órgão do governo, que certificava que seus produtos eram seguros, tanto para animais, quanto para humanos. Mas como é possível afirmar que o acúmulo de todo o veneno de nossa alimentação (que é diferente para cada um), mesmo que estejam dentro de um padrão de "saudável" (o que também é muito questionável), não nos fará mal? Brant finalizou dizendo que a sua empresa tinha também pesquisas na área de alimentos orgânicos. Um pouco contraditório para se confiar, certo?
Por último, José Maria Gusman, que é contra alimentos transgênicos, apresentou sua opinião, dizendo que o uso de transgênicos são feitos de modo a reduzir a variabilidade das espécies, e devem ser usados em conjunto com agrotóxicos, o que acaba por matar todas as pragas, reduzindo então a agrobiodiversidade existente. Apresentou algumas informações que provam que plantas trangênicas possuem componentes químicos que comprometem a saúde por si mesma, mesmo se desconsiderado o impacto de agrotóxicos nela. Então ele nos lembrou da tentativa por parte dessas grandes empresas de retirar o símbolo que indíca a presença de alimentos transgênicos no que comemos e como isso é uma falta de liberdade de escolha. Gusman concluiu sua apresentação, dando fim a mesa redonda.
Então, para nos tornarmos consumidores mais responsáveis e cientes, é importante repensarmos como tudo acontece antes da comida chegar a nossa mesa, como é essa comida e como tudo isso vai refletir em nós e no mundo. Precisamos parar de acreditar que o uso de transgênicos reflete no combate a fome no mundo. Devemos repensar como deve ser o sistema de agricultura que nos alimenta. Não podemos deixar algo tão fundamental para a nossa vida, como é a alimentação, nas mãos de poucos, pois assim ficamos reféns de suas vontades. Por fim, nós, como o país de maior consumo de agrotóxicos, temos que parar de tratar nossa saúde com descaso e começar a ter mais autonomia em nossa alimentação.
Então, para nos tornarmos consumidores mais responsáveis e cientes, é importante repensarmos como tudo acontece antes da comida chegar a nossa mesa, como é essa comida e como tudo isso vai refletir em nós e no mundo. Precisamos parar de acreditar que o uso de transgênicos reflete no combate a fome no mundo. Devemos repensar como deve ser o sistema de agricultura que nos alimenta. Não podemos deixar algo tão fundamental para a nossa vida, como é a alimentação, nas mãos de poucos, pois assim ficamos reféns de suas vontades. Por fim, nós, como o país de maior consumo de agrotóxicos, temos que parar de tratar nossa saúde com descaso e começar a ter mais autonomia em nossa alimentação.